Sunday, August 27, 2006

Resumo

Este texto reúne reflexões sobre o tema da resistência, procurando associá-las a uma especulação sobre o financiamento do ‘salário social para todos’, proposto no ‘programa político’ desenhado por Negri e Hardt em Império.

Partindo da identificação de sinais de insustentabilidade da forma de vida contemporânea – apesar da capacidade aparentemente insuperável de autopreservação e expansão do capitalismo – indaga a respeito de alternativas à crença no mercado como marco absoluto da sociedade. Examina, em seguida, a questão da resistência, no sentido formulado por Foucault, notadamente as noções de biopolítica e biopoder e o paradoxo de um poder que controla tudo e parece produzir a própria dissolução.

Relaciona a isso a crescente participação do ‘trabalho imaterial’ no capitalismo contemporâneo, indicando o surgimento de novas formas de subjetivação e o prenúncio de um novo modo de produção na sociedade pós-industrial. Associa também as formulações de Negri e Hardt relacionadas aos conceitos de multidão e poder constituinte, apontando que o potencial de revolução tornou-se maior na configuração atual do poder capitalista (Império) que nos regimes modernos de poder.

A proposta do ‘salário social para todos’ ou ‘renda mínima desvinculada do trabalho’ é discutida a partir da constatação da generalidade da produção e do conceito de proletariado na sociedade contemporânea. Todos produzem independentemente de terem emprego ou não e mesmo de trabalharem ou não.

É feita, em seguida, uma aproximação dessas considerações com as reflexões de Marx nos Grundrisse sobre o capitalismo avançado. Considerando o desenvolvimento técnico-científico, Marx profetiza que o pilar da produção e da riqueza deixaria de ser o trabalho imediato do homem, mas o próprio conhecimento, o poder do intelecto aplicado à produção. Mas o capitalista insistirá em reduzir essa força aos limites do valor do tempo de trabalho, levando o sistema a consumir a si próprio.

O salário social é então examinado à luz do diagnóstico de André Gorz: o sistema produz cada vez mais riqueza com menos capital e menos trabalho, mas ao mesmo tempo o excedente de capital procura o lucro sem a mediação do trabalho produtivo. O salário social se apresentaria, portanto, como uma saída para o impasse ao qual se dirige o capitalismo por insistir nos padrões de distribuição de riqueza da economia industrial, referenciados ao tempo de trabalho como valor.

O tema também é analisado no contexto da centralidade da tecnociência no capitalismo contemporâneo, considerando-se o financiamento do salário social com os ganhos gerados pelas inovações tecnológicas.

Essa discussão é, então, contextualizada no âmbito das mudanças na sociedade contemporânea, deixando perceber os limites do capitalismo e prenunciando um novo modo de produção e uma nova sociedade, bem como o surgimento de valores, categorias de pensamento e mesmo de um léxico renovado, incluindo a própria idéia de revolução como um devir permanente, o destino da multidão de constituir e reconstituir sempre.

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